“A colonização sequestrou o passado e domesticou o presente. Mas o futuro — o futuro ainda é território de disputa.”
Nesta quarta mesa do ciclo Descolonização do Patrimônio Intelectual e Cultural, o horizonte não está atrás — está adiante. Reunimos pensadores e escritores que recusam a ideia de que o amanhã precisa ser herdeiro das estruturas de ontem. Eles não apenas narram: eles fabulam, insurgem, redesenham o mundo como possibilidade radical.
Marco Neves, linguista e ensaísta português, vem desarmando mitos sobre a pureza da língua portuguesa e mostrando como ela é viva, mestiça e incontrolável. Ao escrever sobre o idioma como organismo em constante mutação, ele prepara o caminho para uma língua aberta ao futuro — e não presa ao passado colonial.
Angélica Ferrarez, filósofa, feminista negra e criadora do conceito de afetos insurgentes, pensa os corpos, os desejos e os saberes como territórios a serem reocupados. Sua presença traz para a mesa uma potência epistemológica rara: a filosofia que nasce do chão, da carne e da escuta.
Yurgel Caldas, crítico literário e pensador amazônico, é um dos nomes mais relevantes da nova crítica decolonial brasileira. Atua entre o ensaio e a criação, construindo pontes entre os mitos da floresta, os fantasmas da colonização e os futuros que podem nascer do sul epistêmico. Sua escrita é um exercício de reencantamento crítico.
Lulih Rojanski é escritora, editora e professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Nasceu no Estado do Paraná, em 1966, mas é radicada no Amapá desde 1986. Tem crônicas e contos publicados em mais de 20 coletâneas de prosa, entre elas, Quarentena (Chiado Books 2021); Prêmio Off Flip (Off Flip, 2022); Imagens de Coragem (Patuá, 2023) e Sou Mtinta (O Zezeu, 2025).
A proposta desta mesa não é discutir tendências literárias, mas sim o papel da imaginação como ferramenta de ruptura histórica. Porque imaginar, aqui, não é fugir da realidade — é enfrentá-la com outras armas. A ficção, o ensaio, o corpo, a língua, a utopia: tudo isso compõe o arsenal simbólico que os convidados desta mesa ativam em suas obras.
Em um tempo em que algoritmos, crises climáticas, autoritarismos e hiperindividualismos ameaçam as possibilidades do comum, falar de futuro é um ato político. E fabular é um ato de liberdade.
Venha ouvir quem não apenas escreve livros — mas projeta outros mundos.