Nossa Terra, Nossa Gente
Ancestralidade, Identidade e o Futuro da Democracia
FliParaíba 2025
A Curadoria em Palavras
O 2º Festival Literário Internacional da Paraíba – FliParaíba 2025 é, em sua essência, uma convocação. Sob o tema "Nossa Terra, Nossa Gente — Ancestralidade, Identidade e o Futuro da Democracia", propomos um reencontro radical: com o solo que nos funda, com as vozes que nos forjam e com a imaginação que nos salva. Este não é apenas um festival de mesas, mas a construção de um mapa narrativo coletivo.
Acreditamos numa equação humanista para o nosso tempo: a democracia só se sustenta onde a memória é valorizada, a identidade é respeitada e a ancestralidade é compreendida como força de permanência e transformação.
A curadoria foi pensada para afirmar a literatura como um campo de disputa simbólica, um lugar de memória, escuta e invenção. A palavra é aqui tratada como um ato político e como o mais íntimo território de cidadania. Estruturamos o encontro em torno de mesas que são verdadeiras travessias, operando numa tríade fundamental: um autor internacional, um autor de alcance nacional brasileiro e um autor da Paraíba. Essa arquitetura visa tensionar o local e o global, o vivido e o imaginado, buscando não o consenso confortável, mas as fricções criativas, os deslocamentos críticos e as alianças improváveis.
Ao longo dos dias, desdobramos as temáticas em três camadas que se entrelaçam — a linguagem como território simbólico, como campo político e como gesto poético — numa espiral de sentidos que culmina na celebração das vozes que fundam mundos, na oralidade que é transgressão e no debate sobre quem decide o que chega ao leitor em uma democracia.
O FliParaíba 2025 convida leitores, autores e mediadores a se reconhecerem como parte desta mesma conversa expandida. Não há uma voz central, há um centro de escuta em movimento.
Mesas
-
A língua que nos (re)inventa
Seguindo a herança do primeiro Fli Paraíba refletimos sobre a cidadania e território como códigos de pertença, a língua sendo uma geografia da alma.
-
Os que vieram antes, os que ainda falam
Antes de qualquer palavra escrita, houve o canto. Antes do livro, houve o corpo que dança e o mito que caminha na memória coletiva. Esta mesa honra a presença dos que vieram antes e dos que seguem conosco — as vozes que sustentam o mundo mesmo quando não são ouvidas.
-
O mundo nasce do corpo
O feminino irrompe como linguagem inaugural. Estas autoras fazem da literatura um gesto de fundação, de insurgência e de reinvenção.
-
A palavra dançando no ouvido
Existem palavras que não se leem — escutam-se. Existem histórias que não cabem no papel — só cabem no corpo, na cadência, no timbre. Esta mesa celebra a oralidade como fundação poética, como fonte de invenção e de memória. “Ai Se Sêsse” — com essa evocação popular que vira desejo, condição e poesia — nos convida a ouvir o idioma em suas curvas mais inesperadas.
-
A notícia como matéria sensível da democracia
Se a literatura é o campo do imaginário, o jornalismo é o campo da urgência. Ambos, no entanto, compartilham uma matéria comum: a linguagem como instrumento de construção da realidade. Esta mesa articula os vínculos e as fraturas entre jornalismo, cultura e democracia, propondo uma reflexão sobre o papel da informação, da crítica e da mediação cultural num tempo de ruído e polarização.
-
Escritas em movimento
Há autores que escrevem de dentro de uma casa, outros que escrevem atravessando fronteiras. Esta mesa reúne autores que fazem da travessia não apenas um tema, mas um método, um ritmo, uma necessidade. “Territórios Literários em Trânsito” celebra a literatura nômade, mestiça, em deslocamento, que se alimenta do exílio, do reencontro, da saudade e da reinvenção.
-
Quando a língua é fronteira e trincheira
A língua não é neutra. Ela é construída, disputada, imposta e reinventada. Esta mesa propõe uma reflexão urgente sobre as implicações políticas e afetivas da linguagem — o modo como ela pode oprimir, emancipar, excluir ou reconstruir comunidades. Quando dizemos “corpo político da língua”, evocamos a materialidade da palavra: seus acentos, suas ausências, suas feridas.
-
Escrever em várias margens
Escrever é sempre atravessar alguma coisa: um tempo, um silêncio, uma fronteira. Esta mesa reúne autores que constroem suas obras entre línguas, culturas e territórios simbólicos, e que fazem da travessia uma forma de estética, ética e existência.
-
Poética da insurgência cotidiana
Há uma poesia que nasce no silêncio da biblioteca, e há outra que explode no alto-falante da esquina. Esta mesa celebra as vozes que ecoam das ruas, dos slams, dos repentistas, dos poetas marginais. Uma literatura dita em voz alta, feita para vibrar no corpo e atravessar o espaço público como grito, canto e reivindicação.
-
Quem decide o que chega ao leitor?
Se a literatura é a forma de uma ideia no mundo, a edição é a arquitetura silenciosa que permite que ela exista publicamente. Esta mesa propõe uma reflexão direta e necessária: quem tem o poder de editar, distribuir e legitimar os discursos que formam uma sociedade? O que é publicado, o que é silenciado — e por quê?

