PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS
Coluna de Sergio Botelho, de 20 a 26 de dezembro de 2025
José Rodrigues de Carvalho
20 dez. 2025
O prédio da foto, na bela Avenida João Machado, abriga o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba-Iphaep, encarregado de proteger a riqueza patrimonial paraibana.
Sua construção está para sempre ligada a uma das figuras intelectuais e políticas paraibanas que mais brilharam nas primeiras décadas do Século XX, e que faleceu em 20 de dezembro de 1935, no Recife.
Tanto era importante que, em matéria de capa de sua edição de 21 de dezembro de 1935, sob o título “Um Parahybano ilustre que desaparece”, o jornal A União lhe presta a devida reverência.
Apesar de haver nascido em Alagoinha, Rodrigues de Carvalho passou a infância e parte da juventude em Mamanguape, o que lhe fez amigo de Castro Pinto, Eliseu César e Carlos Dias Fernandes.
Tanto assim, que durante o governo Castro Pinto (1912-1915) exerceu a elevada função de secretário geral, com registros de atuação, ainda, para além das fronteiras da Paraíba.
“Grande parte de sua vida foi dedicada ao cultivo das letras jurídicas, chegando a atuar em vários estados, a começar do Ceará, Parahyba, capital da República e Recife”, realçou A União.
Sua produção poética, reproduzida nos livros Coração, Prismas, Poema de Maio e Cancioneiros do Norte, é reconhecida até hoje. No campo jurídico escreveu Da Tentativa, Cheque Visado, Liberdade de Imprensa e Do Recurso Extraordinário.
Sobre Cancioneiros do Norte, sua obra mais considerada, ele vai além da poesia e, ao lado de Aspectos da Influência Africana na Formação Social do Brasil, aborda o folclore e a formação étnica brasileira.
Na Paraíba, Rodrigues de Carvalho é lembrado em ruas de João Pessoa, Cabedelo e Guarabira, nomeia escolas e bibliotecas e é um dos patronos da Academia Paraibana de Letras.
“Seu” Teixeira
21 dez. 2025
Na história da cidade de João Pessoa há vários farmacêuticos que gozaram de prestígio em suas épocas, entre eles, Antônio Teixeira Lima, ou simplesmente “Seu” Teixeira.
Há registros em A União de que já na segunda metade da década de 1930, ele atuava na área de farmácia, na capital paraibana. O sucesso ficou mais consolidado a partir da década de 1940.
A farmácia construiu reputação no preparo de fórmulas que acabaram adquirindo status de quase milagrosas, com elevada aceitação por parte das famílias pessoenses.
A Farmácia Teixeira, em seu período áureo, funcionava no centro de João Pessoa. Nas décadas de 1940 e 1950, tinha endereço na Rua Duque de Caxias, nas proximidades do Cine Rex e do Esporte Clube Cabo Branco.
O ambiente comercial era marcado por instalações típicas das antigas boticas: balcão de madeira, estantes com frascos de vidro e um laboratório nos fundos para manipulação das fórmulas.
Lembro bem que “Seu” Teixeira fabricava um medicamento tópico bastante eficaz no combate ao fungo causador do pano branco, um mal não perigoso, mas que, atiçado pelo sol praiano, acabava se revelando feio do ponto de vista estético.
O rol de medicamentos produzidos pela Farmácia Teixeira era muito amplo, e de elevado grau de eficiência. Antônio Teixeira virou uma espécie de médico de vizinhança, uma situação de proximidade sentida por toda a cidade.
A farmácia também se inseriu no cotidiano pessoense como ponto de encontro informal, mesmo em outros prédios, na sequência da Duque de Caxias, que lhe serviram como endereço, todos no Centro de João Pessoa.
Antônio Teixeira Lima trabalhou ativamente até idade avançada, e depois sua missão foi assumida pelas filhas, que deram continuidade ao negócio, estabelecendo-se na avenida Miguel Couto. Hoje funciona em sala do prédio que já abrigou o Cine Municipal.
Em João Pessoa, no bairro do Alto do Céu, há uma rua que homenageia o Farmacêutico Antônio Teixeira Lima.
O Colégio Lins de Vasconcelos
22 dez. 2025
Neste domingo, 21, por volta de 18hs20min, postei um ligeiro vídeo, apelidado de reel, no Instagram, lembrando, por meio do imóvel (construído exatamente para ser um educandário), ainda de pé e bem aparentado, o velho Colégio Lins de Vasconcelos, que marcou época naquele endereço.
Está sendo grande o sucesso da postagem, assim como outras que tenho feito também no Instagram. De tal forma que agora pela manhã já contava com mais de 13 mil visualizações, acima de 500 curtidas e dezenas de comentários (totalmente orgânicas, e contando). Aliás, no mesmo rumo da que fiz sobre a recuperação, pelo governo do Estado, do velho prédio do Colégio das Neves (+20 mil visualizações).
Certamente, o prestígio que tiveram, em seus tempos, essas duas instituições pagas de ensino, em João Pessoa, servem de lastro ao sucesso das lembranças naquela rede social tão importante. Sobre o colégio católico, já falei em crônica anterior. Também, há algum tempo, sobre o próprio Lins, que hoje torno a abordar para que não seja esquecido.
A Praça São Francisco ficava bem no meio entre o referido colégio e o Arquidiocesano Pio XII, de matriz católica. O Lins, apesar da celebração espírita, no nome, mantinha orientação laica.
O colégio tinha como diretores-proprietários o Professor Nery (de marcante tradição no ensino particular da cidade, mesmo antes do Lins) e sua esposa Dona Creuza, nomes em alta voga na sociedade pessoense de então. O professor Nery, apesar de severo, tinha mais queda para o diálogo. Dona Creuza se encarregava mais da disciplina, no que era auxiliada por Dona Maria, inesquecível bedel.
O Lins hoje existe no rol das saudades de outros tempos da cidade de João Pessoa, principalmente na memória de seus ex-alunos, permanecendo, dessa forma, vivo na história do ensino na Paraíba. E, entre as lembranças, suas notáveis participações nos Jogos Estudantis da cidade e do estado.
Emancipações municipais de dezembro de 1961
23 dez. 2025
No fim de 1961, no governo José Fernandes da Lima, a Paraíba atravessou uma das suas fases mais intensas de reorganização territorial. A pressão por autonomia local, a disputa por representação política e a expectativa de acesso direto a verbas e serviços empurraram distritos a buscar status de município. O movimento acabou redesenhando o mapa paraibano.
Nesse contexto, 22, 23 e 24 de dezembro de 1961 se destacam por concentrar a publicação e criação legal de um conjunto expressivo de municípios, conforme listagem da Assembleia Legislativa da Paraíba.
Em 22 de dezembro, segundo a referida lista, foram emancipados os municípios de Areial (Lei 2.606), Juru (Lei 2.656), Lagoa de Dentro (Lei 2.614), Puxinanã (Lei 2.611) e Triunfo (Lei 2.637).
Em 23 de dezembro, foram criados Aguiar (Lei 2.669), Duas Estradas (Lei 2.658), Lucena (Lei 2.664), Nazarezinho (Lei 2.659), Nova Olinda (Lei 2.668), Olho d’Água (Lei 2.670), Paulista (Lei 2.666), Pitimbu (Lei 2.671), São José dos Cordeiros (Lei 2.662), São Miguel de Taipu (Lei 2.667) e Seridó (Lei 2.660).
Em 24 de dezembro, Belém do Brejo do Cruz (Lei 2.623), Boqueirão dos Cochos (Lei 2.681), Junco do Seridó (Lei 2.680), Passagem (Lei 2.679), Salgadinho (Lei 2.676), Santa Terezinha (Lei 2.677), Santana dos Garrotes (Lei 2.672), São José do Sabugi (Lei 2.682) e Várzea (Lei 2.683). No mesmo dezembro de 1961, antes e depois dos dias 22, 23 e 24, muitos outros municípios foram criados na Paraíba.
O saldo dessas emancipações foi amplo. No curto prazo, nasceram novas sedes administrativas, novos cargos e novas prioridades de investimento. No longo prazo, consolidaram-se identidades cívicas e redes políticas próprias, com ganhos e tensões típicos de processos desse tipo, como disputas por limites, arrecadação e capacidade de oferta de serviços.
O Natal de Pedro II, em 1859
24 dez. 2025
A igreja não mais existe, foi derrubada no governo João Pessoa, para formar o jardim que fica ao lado do atual Museu da História da Paraíba, ex-Palácio da Redenção, na Praça João Pessoa. Mas o Natal de 1859, Dom Pedro II e a Imperatriz Tereza Cristina passaram assistindo a Missa do Galo na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na então cidade da Parahyba (hoje, João Pessoa). O presidente da Província de Parahyba do Norte, naquele momento, era Ambrósio Leitão da Cunha, um paraense que anos mais tarde receberia o título de Barão de Mamoré e o cargo de Ministro dos Negócios do Império do Brasil.
A comitiva imperial chegou à cidade exatamente no dia 24 de dezembro daquele ano. Depois de percorrer o difícil, mas aprazível trajeto fluvial entre a foz do Paraíba, em Cabedelo, e o Porto do Varadouro (ou do Capim), nosso principal equipamento portuário, naquele período, a comitiva real foi recepcionada na então Praça do Imperador (hoje XV de Novembro), debaixo de muitas pompas e circunstâncias e, naturalmente, certos exageros, posteriormente relatados pelos cronistas.
Dali, percorreu algumas ruas da cidade, com destaque para a requintada rua da Areia, com seus casarões ocupados e decorados pela gente paraibana mais abastada, até chegar ao vetusto conjunto jesuítico, onde a família real ficou hospedada. O imperador cumpria, então, uma de suas viagens pelo Norte do Brasil, no sentido de fortalecer o império e promover a unidade nacional, sempre abalada por rebeliões diversas.
A estadia na Parahyba do Norte durou longos quatro dias, nos quais visitou engenhos da Várzea do Paraíba, se demorou em Pilar e, na sequência, em Mamanguape, deixando em ambas as cidades impressões que duram até hoje. Quando voltou à Corte, não esqueceu de agraciar paraibanos com títulos nobiliárquicos.
Albertina Correia Lima
25 dez. 2025
De vez em quando tenho escrito sobre um grupo de mulheres que, de forma corfajosa, enfrentaram o patriarcalismo, ainda mais exacerbado que hoje, na Parahyba da primeira metade do Século XX. Entre essas mulheres, havia Albertina Correia Lima.
Nascida em João Pessoa, em 25 de dezembro de 1889, Albertina pertenceu a uma geração que precisou abrir caminho com a palavra, com o estudo e com a presença pública, unindo intrepidez e conhecimento intelectual para abrir espaço além dos limites que a sociedade impunha às mulheres.
Estava entre as que construíram a Associação Paraibana para o Progresso Feminino, uma entidade vinculada nacionalmente à Associação Brasileira para o Progresso Feminino, dirigida pela pioneira do movimento feminista brasileira, a mítica paulistana Bertha Lutz.
Formou-se professora pela Escola Normal em 1912 e seguiu na docência, atuando em espaços de ensino da capital num tempo em que a educação era, para muitas mulheres, o território mais possível e, ao mesmo tempo, mais vigiado.
No início da década de 1930, no entanto, concluiu o curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife. Há registro de sua inserção em instituições de memória e cultura, como o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e na Associação Paraibana de Imprensa.
É nesse contexto que ganha relevo seu texto “A mulher e seus direitos em face de nossa legislação”, publicado no jornal A União em 1933, associado também a uma leitura em rádio. Ali, Albertina discute o lugar da mulher diante das leis e das práticas sociais, sem pedir licença para existir como voz autorizada.
Albertina morreu em 18 de março de 1975. Ficou como exemplo de uma mulher que trabalhou para que outras pudessem falar mais alto. Não foi uma personagem de vitrine. Foi gente de ideias, de trabalho cotidiano, de texto bem amarrado. E, numa Paraíba em que o mundo masculino dominava, ela insistiu em assinar o próprio nome de mulher na história.
120 anos de nascimento de Ignez Mariz
26 dez. 2025
Ignez Mariz, nome literário de Maria Ignez Marques Mariz, nasceu em Sousa (onde hoje é nome de rua) há 120 anos, portanto, em 26 de dezembro de 1905, e morreu no Rio de Janeiro em 1952. Era filha do médico e político Antônio Marques da Silva Mariz e de Maria Emília Marques Mariz (avós paternos do futuro governador da Paraíba Antônio Marques da Silva Mariz).
Estudou o primário em Sousa e fez o curso de pedagogia no Colégio Nossa Senhora das Neves, em João Pessoa. Aos dezoito anos, ela começou a colaborar em jornais e revistas, inclusive títulos de circulação nacional, e manteve produção ligada a crônicas e reportagens de variedade.
O trânsito entre o Sertão e os centros editoriais do país ajuda a entender uma marca de Ignez. Ela falava do interior como parte de sua existência, com atenção a costumes, vozes e tensões, mas também com consciência de que havia um Brasil urbano lendo e julgando o Sertão.
Em 1937, publicou o romance A Barragem, lançado pela José Olympio no Rio de Janeiro, tomando como referência a construção da barragem de São Gonçalo, na região de Sousa.
Em 1939, venceu o prêmio do Círculo Brasileiro de Educação Sexual (CBES) para o melhor livro de educação sexual. Em 1940, publicou o livro “Educação sexual: a que leva a curiosidade infantil insatisfeita”.
Em 1951, mudou-se para o Rio de Janeiro, passando a colaborar com vários jornais e revistas, especialmente “Revista da Semana” e “Eu sei tudo”. Publicou um livro de contos chamado Ruma” e deixou um romance inacabado, intitulado “Tresloucado Gesto”.
Em sua homenagem, o governo do Estado patrocinou recentemente a obra “Ignez Mariz – 120 anos de uma voz represada”, como parte das homenagens da 5ª FliRede (Festa Literária da Rede Estadual), base das informações que constam deste texto, ao lado das que colhi da Biblioteca Nacional, do Repositório Institucional da UFPB e do Paraíba Criativa.
PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS
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Sobre o autor
É jornalista e escritor, membro da União Brasileira de Escritores. Iniciou sua carreira no final dos anos 1970, na redação do jornal O Norte. Atuou no jornalismo diário em diversos meios de comunicação paraibanos, seja como editor, colunista político ou âncora. Desempenhou atividades enquanto assessor de imprensa em instituições renomadas como a Universidade Federal da Paraíba e o Ministério Público de Rondônia. Publicou os livros “Memórias da Cidade de João Pessoa” (2024), e “João Pessoa, uma viagem sentimental” (2025).

