PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS
Coluna de Sergio Botelho, 13 a 19 de dezembro de 2025
O Dia do Forró
13 dez. 2025
A escolha do dia 13 de dezembro como Dia do Forró tem muito a ver com uma paraibana de Uiraúna chamada Luíza Erundina de Sousa, ao tempo em que exercia o cargo de deputada federal eleita pelo Estado de São Paulo.
Corria o ano de 2001, quando Erundina formulou o Projeto de Lei n.º 4.265. Na proposta apresentada à Câmara dos Deputados, explicou que homenageava o pernambucano cidadão nordestino, Luiz Gonzaga, nascido em 13 de dezembro de 1912, também conhecido como o Rei do Baião.
Não esqueceu de lembrar músicas como Asa Branca, Baião, Assum Preto e Vem Morena como expressões da brasilidade e da cultura sertaneja. Então, conseguiu que a matéria fosse aprovada na Câmara, em 2004, no Senado, em 2005, e sancionada pelo presidente Lula, com publicação no Diário Oficial da União em 8 de setembro de 2005.
A criação de um dia comemorativo do forró se insere em um processo mais amplo. Nesse sentido, é importante lembrar que em 2011 a Associação Cultural Balaio do Nordeste, sediada na Paraíba, protocolou no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN, o pedido de registro das Matrizes Tradicionais do Forró como bem cultural brasileiro.
Uma década depois, em 9 de dezembro de 2021, o Conselho Consultivo do IPHAN aprovou por unanimidade o registro dessas matrizes no Livro das Formas de Expressão, reconhecendo o forró como supergênero, por conta de reunir vários gêneros musicais, e patrimônio imaterial brasileiro.
Hoje, quando se fala em Dia do Forró, estamos falando ao mesmo tempo de memória, política pública e economia cultural. A data concentra homenagens, programações especiais em rádios, TVs e festivais, sessões solenes em parlamentos e ações de educação patrimonial.
Embora se apoie na figura de Gonzagão, a data se abre, na linha do que reconhece o IPHAN, para festas, modos de tocar, dançar, ensinar, construir instrumentos e organizar comunidades em torno da sanfona, da zabumba e do triângulo. O forró reúne um conjunto de tradições das mais representativas do universo cultural nordestino.
Sivuca
14 dez. 2025
No dia 14 de dezembro de 2006 falecia em João Pessoa o paraibano de Itabaiana Severino Dias de Oliveira ou simplesmente Sivuca, sua identidade mundial. Para sempre, seu nome ficou consagrado como um dos maiores da Música Popular Brasileira, com reconhecimento no contexto da música erudita internacional.
Sua morte foi o triste epílogo de uma luta de mais de um ano por médicos e pela esposa, a cantora e compositora paraibana Glorinha Gadelha. Seu corpo foi velado no Parque das Acácias e sepultado ali mesmo, numa despedida que reuniu familiares, amigos, músicos e milhares de pessoas de várias gerações.
Ele havia nascido em 26 de maio de 1930, em Itabaiana, numa família de pequenos agricultores e sapateiros. Albino, não podia trabalhar muito tempo debaixo de sol, o que abriu espaço para outra rotina. Mais tarde misturaria choro, frevo, baião, forró, jazz, blues e música de concerto com naturalidade.
Em 2006, o ano de sua morte, há três morando em João Pessoa e trabalhando muito, lançou o projeto Sivuca Sinfônico, pela gravadora Biscoito Fino, ao lado da Orquestra Sinfônica do Recife, registrando sete arranjos orquestrais próprios e abrindo mais uma frente para a sanfona em ambiente erudito.
Poucos meses antes de falecer recebeu do Ministério da Cultura a Ordem do Mérito Cultural, reconhecimento oficial de uma importância que o meio musical já lhe atribuía havia décadas. “Eu me considero um músico de jazz. Mas jazz à nossa maneira. Sou um músico urbano”, resumiu-se certa vez em entrevista ao O Globo.
A Paraíba se reconhece em Sivuca como filho ilustre e o Brasil o reverencia. No exterior, seu nome continua a circular em reedições, pesquisas e discos de parceiros que guardam o arranjo de Pata Pata, os encontros com o jazz, a imagem do sanfoneiro albino de cabelo em juba que fez da sanfona um idioma capaz de conversar com praticamente qualquer tradição musical do planeta.
Sivuca é uma glória paraibana e brasileira que deve ser lembrada sempre.
Irineu Joffily
15 dez. 2025
Até a segunda metade do Século XIX, a historiografia paraibanxa era praticamente inexistente. A história particular da província era reduzida pela lente dos historiadores pernambucanos.
Entre os primeiros pesquisadores da nossa própria história há um sertanejo nascido em Pocinhos, em 15 de dezembro de 1843, batizado Irineu Ceciliano Pereira da Costa.
Irineu era filho de fazendeiros com vida notadamente sertaneja e voltada para a criação de gado. Sua família descendia dos Oliveira Ledo, conquistadores do Sertão paraibano.
Tendo iniciado seus estudos com o Padre Rolim, em Cajazeiras, Joffily logo seguiu para a capital pernambucana onde cursou o Secundário e o Superior em Ciências Jurídicas e Sociais na tradicional Faculdade de Direito do Recife.
Segundo biografia publicada pela Academia Paraibana de Letras, da qual é patrono da Cadeira 18, Irineu Joffily, ainda estudante de Direito, publicou o jornal O Acadêmico Parahybano.
Nele escreveu minibiografias sobre revolucionários paraibanos que participaram da Revolução Pernambucana de 1817, portanto, já destacando a inserção de conterrâneos naquele importante evento da história do Nordeste e do Brasil.
Após assumir, em sequência, cargos de promotor e de juiz, dedicou-se à pesquisa histórica, com foco na Paraíba, aproveitando as excelentes condições financeiras dos pais.
Em 1868, elegeu-se deputado provincial pelo Partido Liberal, sendo reeleito por várias legislaturas. Em 1889 chegou a ser eleito deputado geral, deixando de tomar posse por conta da Proclamação da República e dissolução da Câmara.
Em 1888, fundou, em Campina Grande, o histórico jornal A Gazeta do Sertão, pregando o regime Republicano. Bem antes, em 1872, publicara o livro Notas Sobre a Paraíba. Já em 1894, o Synopsis das Sesmarias da Capitania da Parahyba. Ambos os livros são considerados obras seminais da historiografia paraibana.
Hoje, Irineu Joffily nomeia ruas em João Pessoa, em Campina Grande e em Patos. Importante lembrar sempre de figuras como Irineu Joffily, tão importantes para a nossa história.
Antônio Ivo de Medeiros
16 dez. 2025
O dia 16 de dezembro de 2008 marcou um trágico acontecimento na história política paraibana: o suicídio do então prefeito de Santa Luzia, Antônio Ivo de Medeiros.
O ato extremo foi executado em sala da Casa Civil do Governo do Estado que funcionava na antiga sede do Banco do Estado da Paraíba, o Paraiban, privatizado em novembro de 2001.
A forma pela qual Antônio Ivo morreu causou profunda surpresa, principalmente entre amigos e conhecidos em geral, em virtude de um perfil movido pelo bom humor, não apenas no relacionamento pessoal, como na atividade política.
Médico de formação, ele se projetou como uma liderança municipal com trânsito amplo, capaz de conversar com aliados e adversários e de manter, por anos, uma presença constante na vida pública do estado.
No momento de sua morte, ele conduzia pela segunda vez a Prefeitura de Santa Luzia, cargo para o qual havia sido eleito em outubro de 2004, e que deveria terminar no final de 2008, já que não havia concorrido à reeleição.
Antes disso, ele havia exercido o mesmo cargo na década de 1970, marcando sua entrada na vida política. Nos anos seguintes, ampliou a atuação para o plano estadual.
Assim, elegeu-se deputado estadual e cumpriu três mandatos, com eleições em 1986, 1990 e 1994, tornando-se um nome conhecido na Assembleia Legislativa da Paraíba.
O desempenho ajuda a entender a sua influência política, construída tanto pela presença no parlamento quanto pela ligação direta com o eleitorado sertanejo, que costuma cobrar obras, serviços e respostas rápidas.
Ao falecer, Antônio Ivo, nascido em 19 de maio de 1948, estava com 60 anos. Depois de ser velado no Salão Nobre da Assembleia Legislativa, seu corpo foi transladado para Santa Luzia, onde foi sepultado.
Hoje, Antônio Ivo de Medeiros é nome de rua na cidade de Campina Grande, de uma Unidade Básica de Saúde da Família em Soledade, além de um bairro inteiro e de um ginásio na cidade de Santa Luzia.
Celso Marques Mariz
17 dez. 2025
Capa do livro Evolução Econômica da Paraíba, de Celso Mariz
Outro dia, ao falar de Eliseu César e de sua brilhante passagem por Belém do Pará, citei outro paraibano que também esteve pelo Norte, antes de se fixar de vez na cidade da Parahyba, atual João Pessoa.
No caso, Celso Marques Mariz, um sousense que completou sua criação em outras cidades do estado, incluindo Taperoá, sob a tutela de seu padrinho, o juiz Félix Joaquim Daltro, após se tornar órfão de pai aos 3 anos de idade.
A passagem de Celso Mariz pelo Pará acontece no momento, início do Século XX, em que a economia da borracha ainda irradiava oportunidades e atraía gente de outras regiões.
Nascido em 17 de dezembro de 1885, ele esteve em Belém por volta do ano de 1906, em torno dos 21 anos, portanto, quando manteve contato mais forte com setores intelectuais, enquanto revisor do jornal A Província do Pará.
Seu livro de estreia, Através do Sertão, foi escrito em 1909 e publicado em 1910, já de volta à Paraíba. Em 1922, publica Apanhados Históricos da Paraíba, uma síntese histórica do estado. Evolução Econômica da Paraíba saiu em 1939.
Tem mais: Ibiapina, um apóstolo do nordeste, em 1942; Carlos Dias Fernandes, 1943; Cidades e homens, 1945; Areia e a rebelião, 1946; Memória da Assembleia Legislativa, 1946; Pilões, antes e depois do termo, 1948; Notícia histórica de Catolé do Rocha, 1956; e Figuras e fatos, 1976.
Naturalmente, fez parte do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, dirigindo a instituição na década de 1940. Ainda em 1941, compôs o seleto grupo fundador da Academia Paraibana de Letras.
Celso Mariz escreveu nos jornais O Norte, O Comércio e A União, sendo fundador do A Notícia, que servia de porta voz ao famoso agrupamento político dos Jovens Turcos, onde pontificava Sólon de Lucena.
Foi, também, em épocas diferentes, diretor de A União, secretário no governo Argemiro de Figueiredo, secretário da Assembleia Legislativa e deputado estadual na legislatura 1924-1928.
Atualmente, o nome de Celso Mariz designa um Condomínio Residencial no Jardim Cidade Universitária, em João Pessoa, e uma escola municipal em Sousa.
O velho prédio do Colégio das Neves
18 dez. 2025
Retomar a história do Colégio Nossa Senhora das Neves, nesta série de crônicas memoriais que escrevo, é sempre um prazer, porque carregado de ancestralidade. Não apenas pelo fato de ali terem estudado minha mãe, minhas tias, primas e irmã, mas porque faz parte da própria história de João Pessoa, desde os seus primórdios.
Com efeito, toda aquela área, nas proximidades do templo dedicado à padroeira Nossa Senhora das Neves e ao conjunto beneditino, formou-se como pioneiro largo por onde crescia e transitava a cidade, servindo também de pátio de obras.
Não havia apenas prédios religiosos em construção por ali. A rua Nova, atual General Osório, uma das primeiras abertas na cidade, tornava-se pouco a pouco endereço de novos moradores, atraídos pela Filipéia em expansão.
Tamanha era a importância do local que Duarte da Silveira, dono de engenho e um dos mais lembrados fundadores da Paraíba, incentivador financeiro de novas residências na cidade, tentou, no século XVI, erguer para si uma mansão, que chegou a avançar das fundações às paredes.
Dois séculos depois, em 1858, na intenção de ampliar o horizonte feminino para além do oratório, da sala de jantar e da cozinha, conforme costumava dizer, o governador Beaurepaire Rohan criou o Colégio Nossa Senhora das Neves para moças. A iniciativa, no entanto, não sobreviveu ao término de seu governo.
No final do século XIX, o propósito foi retomado pelo primeiro bispo da Paraíba, Dom Adauto, que fundou o colégio confessional dirigido por uma congregação de freiras. Essa versão do Colégio Nossa Senhora das Neves vingou durante quase todo o século XX em João Pessoa.
Volto ao assunto porque, nesta quinta-feira, 18, às 10 horas, o governador João Azevedo devolverá oficialmente vida ao prédio, agora renascido como Parque Tecnológico Horizontes da Inovação (PTHI). Além da nova missão, o ato representará um gesto de fortalecimento da preservação do nosso valioso Centro Histórico.
Bom danado!
Patrimônio cultural, ciência e tecnologia numa só tacada
19 dez. 2025
Foi bonita a festa ontem, quando da inauguração do Parque Tecnológico Horizontes de Inovação (PTHI), no prédio revitalizado e requalificado do antigo Colégio Nossa Senhora das Neves, que pode se transformar na versão paraibana do famoso Vale do Silício, nos Estados Unidos (basta ter continuidade nos próximos períodos governamentais).
A celebração marcou duas ações relevantes para João Pessoa: a abertura de um espaço de inovação, a conectar empreendedores e investidores na criação de empresas de base tecnológica; e, ainda, a revitalização de um prédio de valor histórico.
A inauguração do PTHI não passou despercebido do ambiente científico nacional, a ponto de fazer parte da agenda da atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a professora e pesquisadora Francilene Procópio Garcia, da Universidade Federal de Campina Grande.
Em sua fala, o governador João Azevedo, atrelado à tecnologia desde os tempos de Escola Industrial até a formação em Engenharia Civil, reforçou seu integral apoio à iniciativa, antes, discorrida pelo secretário de Ciência e Tecnologia, Cláudio Furtado. Azevedo, naturalmente, também abordou o trabalho realizado no prédio do antigo Colégio das Neves, no Centro Histórico de João Pessoa.
Nessa seara, a da preservação patrimonial e cultural, o governador garantiu sua disposição em efetivar outras três próximas investidas governamentais: o Museu da Democracia, no velho Casarão dos Azulejos; o Memorial das Etnias, no antigo Casarão dos Capitães-Mores, na Praça Rio Branco; e o Memorial Augusto dos Anjos, em prédio vizinho à Academia Paraibana de Letras.
Na turma do palanque, o padre Marcondes Meneses, diretor-geral do Centro Cultural São Francisco, também envolvido com a valorização do Centro Histórico de João Pessoa, assegurava o aval da Arquidioceses à iniciativa (na foto, que flagra o discurso do governador, vê-se, na primeira fila ao fundo, lado a lado, da esquerda para a direita, o Padre Marcondes, de camisa azul, a professora Francilene e o secretário Cláudio Furtado).
Investir nessas ações voltadas para preservar a história, ainda mais, quando aliadas ao avanço científico e tecnológico, vira atitude de fortíssima aliança na construção do futuro.
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