PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS

Coluna de Sergio Botelho, 06 a 12 de dezembro de 2025


𝗔 𝗶𝗺𝗽𝗼𝗿𝘁𝗮̂𝗻𝗰𝗶𝗮 𝗱𝗮 𝗮𝘃𝗲𝗻𝗶𝗱𝗮 𝗘𝗽𝗶𝘁𝗮́𝗰𝗶𝗼 𝗣𝗲𝘀𝘀𝗼𝗮 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝗮 𝗰𝗶𝗱𝗮𝗱𝗲

06 dez. 2025

Tenho, sempre que posso, reforçado o papel da Avenida Epitácio Pessoa para o avanço da cidade na direção do Leste, ocupando toda a região em suas duas laterais e, principalmente, a da orla marítima.

Depois da abertura entre as décadas de 1910 e 1920, a extensa e larga via urbana permaneceu por décadas como eixo pouco ocupado, mais rural que urbano, com circulação limitada e trechos ainda em terra batida.

Foi somente na década de 1950, com a pavimentação e a melhoria dos sistemas de drenagem e saneamento, que a Epitácio passou a servir mais plenamente ao papel de grande corredor entre o centro expandido e o litoral.

A pavimentação naturalmente facilitou o tráfego de automóveis, ônibus e caminhões de serviço, encurtando tempo e esforço no deslocamento entre a Lagoa e Tambaú.

As camadas sociais de maior renda começaram a se deslocar progressivamente do entorno do Centro Histórico e dos antigos bairros centrais em direção a novos loteamentos ao longo da avenida e na orla.

A Epitácio começou também a se tornar vitrine da arquitetura moderna residencial. Projetos de casas e pequenos edifícios com assinaturas de arquitetos famosos reforçaram a imagem de uma nova João Pessoa mais moderna.

Nessa pisada, a cidade finalmente rompeu os limites que a prendiam fisicamente ao berço, representado pelo Rio Sanhauá, assumindo o Litoral e respirando novos ares vindos do Atlântico, após quase 400 anos de sua fundação.

Hoje, Tambaú, Cabo Branco, Manaíra e Bessa integram uma estrutura urbana que combina história e contemporaneidade, desde o Centro Histórico, onde predomina um desenho mais horizontal, aos bairros que seguem crescendo com base numa arquitetura de tipo vertical.

Penso que a combinação dessas duas paisagens urbanas faz de João Pessoa uma cidade com raros atrativos físicos, ao mesmo tempo em que preserva (e que seja cada vez com maior afinco) suas igrejas, conventos, prédios e logradouros de diferentes épocas, mantendo vivo o senso de pertencimento entre seus habitantes e favorecendo o turismo.


O Bairro do Róger

07 dez. 2025

Um bairro que mantém uma rua homenageando a saudade é, de cara, um bairro de respeito. O Róger tem uma Rua da Saudade, de configuração popular, que atravessou o tempo sem se permitir um novo batismo para agradar a algum figurão qualquer.

O Róger ostenta o fabuloso Parque Arruda Câmara, com sua Bica do Tambiá, à espera de mais atenção em conformidade com as exigências de um bem tombado, profundamente ligada à história de João Pessoa desde os primeiros tempos da cidade.

Há ainda o 11 Esporte Clube Recreativo, o tradicional Campo do 11, palco de duelos futebolísticos memoráveis e espaço social do bairro. Aos 90 anos de fundação, continua firmemente ligado à vida do Róger.

E os carnavais de rua do bairro? Memoráveis. Afora o desfile oficial das escolas de samba, das tribos e dos blocos de frevo, no Centro, havia uma versão no Róger, que também apresentava suas próprias tribos e escolas de samba.

Na seara dos carnavais de clube, tão fortes em João Pessoa até a década de 1980, o do Guarany Esporte Clube do Róger era bastante animado. Ao lado do 11, também fez muita figura no esporte amador da cidade, com sua quadra sediando concorridos torneios.

Foi no Róger que nasceu a primeira emissora de rádio de João Pessoa, no início da década de 1930. A pioneira tinha seda na atual Rua Gouveia Nóbrega, nas proximidades da Bica. Seus equipamentos serviram em 1937 à instalação da atual Rádio Tabajara.

E as festas de Santa Terezinha, a padroeira do bairro, a partir de sua igreja já devidamente tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep)? Tanto a novena quanto a parte profana atraiam (a novena ainda hoje) a população da capital.

Há outros ícones pessoenses com endereço no Róger, a exemplo da Padaria Flor das Neves, do Seminário Diocesano, e dos Colégios Estadual do Róger, Sagrado Coração de Jesus e João XXIII. Sem esquecer da Penitenciária Modelo, com sua dura função.

Eita Róger!


8 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição e de Iemanjá

08 dez. 2025

Na condição de feriado oficial ou de ponto facultativo, há oito datas envolvendo apelo religioso respeitadas em João Pessoa: Sexta-Feira da Paixão e Corpus Christi, que são móveis; 5 de agosto, Dia de Nossa Senhora das Neves e de fundação da cidade; 12 de outubro, Dia de Nossa Senhora Aparecida; 2 de novembro, Dia de Finados; 8 de dezembro, Dia de Nossa Senhora da Conceição e de Iemanjá; e 25 de dezembro (Natal), estabelecido pelo cristianismo como Dia do Nascimento de Jesus.

Na Paraíba, e em outras partes do país, especialmente no Nordeste, invocando sua condição de mãe protetora, Iemanjá, entidade espiritual das religiões de matriz africana, acabou identificada com Nossa Senhora da Conceição, do catolicismo, louvada em 8 de dezembro. Como Rainha do Mar, Iemanjá é associada, em outras regiões do Brasil, à Nossa Senhora dos Navegantes, festejada em 2 de fevereiro, a exemplo da Bahia.

O recurso da associação desses símbolos de fé, denominado sincretismo religioso, ele aconteceu como uma forma de os africanos trazidos à força para servirem de escravos no Brasil terem alguma chance de praticar suas religiões ancestrais, frente ao poder monárquico, escravocrata e repressivo. Repressão que, infelizmente, continuou após o arruinamento da Monarquia e de a Constituição Republicana de 1891 haver declarado que o Estado Brasileiro era laico. Mesmo estabelecida a liberdade de culto, a repressão às religiões de matriz africana prosseguiu em larga escala, no país.

Na Paraíba, eram comuns batidas policiais nos terreiros, os locais onde a fé é praticada, o que de certa forma mudou com a Lei nº 3.443, de 6 de novembro de 1966 (preste atenção na data), assinada pelo então governador João Agripino.

Na oportunidade foi criada a Federação dos Cultos Africanos da Paraíba, presidida pelo líder religioso Carlos Leal. Daí, a relativa liberdade dos povos de santo em festejarem Iemanjá em 8 de dezembro, dia de muita festa no mar.

Mas, nem tudo são flores no campo do respeito às religiões afro-brasileiras, aqui e alhures, ainda hoje.


O agitado Busto de Tamandaré

09 dez. 2025

Nesta segunda-feira, 08, o Busto de Tamandaré serviu mais uma vez de endereço a um evento de peso na capital paraibana, no caso, o que marcou as homenagens dos filhos de santo à orixá Iemanjá, em seu dia.

Além da festa de devoção oferecida à Rainha do Mar, das tradições religiosas afro-brasileiras, o Busto de Tamandaré sedia eventos de todos os tipos, de esportivos e religiosos a atos públicos reivindicatórios, cívicos e políticos.

De tal forma virou referência urbana, que o imenso espaço de asfalto, praça e areia à beira-mar passou todo ele a ser conhecido como Busto de Tamandaré, se transformando, também, num dos locais de maior visibilidade turística da cidade.

Na condição de espaço político, por exemplo, aquele final da Avenida Epitácio Pessoa, no limite das praias de Cabo Branco e Tambaú, superou os prestígios que um dia tiveram a Praça João Pessoa, o Ponto de Cem Reis e o Parque Solon de Lucena.

Afora o busto que batiza todo o local urbano onde está fincado, Tamandaré também dá nome à principal avenida de Tambaú, a que liga os bairros de Cabo Branco e Manaíra, esbarrando em outro local marcante da orla, o Largo da Gameleira.

Num breve arrazoado biográfico, Joaquim Marques Lisboa nasceu em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, em 1807, e construiu longa carreira na Armada Imperial, chegando ao posto de Almirante.

Participou de conflitos como a Independência do Brasil, a Guerra da Cisplatina, a Guerra do Prata, a Revolução Farroupilha, a Guerra do Uruguai e a Guerra do Paraguai. Recebeu, pelo conjunto da obra, os títulos de Marquês e de Patrono da Marinha do Brasil.

Toda essa visibilidade urbana faz do homenageado com o busto, o Almirante e Marquês de Tamandaré, um dos mais beneficiados entre os distinguidos com a perpetuidade nos diversos logradouros de João Pessoa.


Samuel Duarte, primeiro paraibano eleito para presidir a Câmara dos Deputados

10 dez. 2025

Antes do pessoense, com atuação política em Patos, Hugo Motta ser eleito presidente da Câmara dos Deputados, com mandato ainda em curso, um outro paraibano, este de Alagoa Nova, chamado Samuel Duarte, conseguiu o mesmo lá pelos idos de 1947, em meio ao processo de redemocratização do Brasil pós-ditadura getulista. Dez anos antes, em 1937, havia tido seu mandato de deputado federal cassado pelo golpe promovido por Getulio Vargas, ação acompanhada por imediata abertura do período ditatorial do Estado Novo.

No campo político, Samuel cumpriu outros papéis importantes. Entre julho e dezembro de 1945 assumiu a Interventoria do Estado da Paraíba, nos estertores da ditadura varguista, em substituição ao interventor Rui Carneiro, do qual foi Secretário de Estado. Rui havia se afastado para concorrer ao cargo de governador, de forma direta. Nas eleições de 1951, Duarte foi reeleito deputado federal.

Após renunciar, em 1954, a esse novo mandato, que foi o último de sua carreira parlamentar, Samuel Duarte voltou a ter intensa atividade jornalística, na qual ele militara após a conclusão do curso de Direito, em 1931. Naquele ano, foi nomeado diretor de A União, pelo interventor Antenor Navarro, cargo que exerceu até 1934. Na condição de jornalista, ele marcou presença não apenas na imprensa paraibana, mas também na pernambucana e na carioca.

De grande destaque nacional foi ainda a participação de Samuel Vital Duarte (seu nome civil) no campo da advocacia. Entre 1967 e 1969, ele presidiu a Ordem dos Advogados do Brasil. No período, em plena ditadura militar, a OAB assumiu a luta em favor do Estado de Direito e dos direitos humanos. Sua gestão ficou marcada por protestos contra prisões arbitrárias de advogados, contra a interdição de escritórios pela repressão e contra a violência policial nas manifestações estudantis de 1968.

Em 1963, havia sido admitido na Academia Paraibana de Letras, sendo fundador da Cadeira 33. Faleceu em 1979, no Rio de Janeiro.


Osmar de Aquino

11 dez. 2025

Neste 11 de dezembro aproveito o costume, a mim, muito agradável, de escrever diariamente sobre histórias da Paraíba, para falar sobre uma figura que marcou a vida paraibana, entre a primeira e a segunda metade do Século XX.

Quero falar alguma coisa sobre Osmar de Araújo Aquino, nascido em 11 de dezembro de 1916, oriundo de uma família que fazia parte de elite tradicional do Brejo. Contudo, não foi exatamente sua ancestralidade o que mais lhe motivou a vida pública.

Ao invés da tranquilidade que a tradição familiar burguesa e de proprietários agrários certamente lhe garantiria, pediu matrícula entre os que se alinhavam com direitos de gente mais sofrida.

Em vista disso, adotou a companhia de figuras paraibanas que estavam lado a lado com o ideário das Ligas Camponesas e, na sequência, contra a ditadura. Em suas pelejas teve como aliados políticos, ao longo dos anos, os deputados Assis Lemos e José Joffily, os líderes camponeses Pedro Fazendeiro e Nego Fuba, o desembargador e militante comunista João Santa Cruz, o jornalista Jório Machado e o então estudante e vereador Antônio Augusto Arroxelas para citar alguns.

Na época, a esquerda paraibana se espalhava por partidos, sindicatos, Ligas Camponesas, Igreja progressista, imprensa e movimento estudantil. Não havia um único “chefe”, mas redes de lideranças em vários campos.

Aquino Iniciou sua vida pública em 1940 em breve passagem pela Prefeitura de Guarabira, sua terra natal. Em 1946 foi eleito deputado constituinte, após o fim do regime ditatorial getulista. Em 1955, voltou, eleito, a comandar a Prefeitura de Guarabira. No início da década de 1960, foi deputado estadual.

Quando da edição do Ato Institucional nº 5, Osmar de Aquino estava exercendo a função de deputado federal. Meses depois, no início de 1969, teve o seu mandato cassado, sendo ainda compulsoriamente demitido do Banco do Nordeste, a cujo corpo jurídico pertencia.

Osmar de Aquino faleceu em 9 de maio de 1980, com direito a um velório do qual participaram milhares de guarabirenses, a esmagadora maioria pobre e agradecida pelo compromisso com suas (dos despossuídos) questões, enquanto da vida ele desfrutou.

Cabedelo e João Pessoa

12 dez. 2025

Uma aglomeração de tipo urbana tão antiga quanto a capital da Paraíba é Cabedelo. As duas nascem juntas, vinculadas a um mesmo enredo histórico. Mais acima, às margens do Sanhauá, começava em 4 de novembro de 1585 a construção da então Cidade Real de Nossa Senhora das Neves. Na boca da barra, diante do Atlântico, ao mesmo tempo, dava-se início à construção do forte de Santa Catarina.

A Coroa queria um ponto de defesa na entrada do rio, para vigiar navios inimigos e proteger a nova cidade que nascia mais para dentro. Em volta da fortificação foram surgindo casas, equipamentos improvisados, ranchos de pescadores.

Ao longo dos séculos, entre ataques holandeses, reconstruções e mudanças de nome, a Fortaleza de Santa Catarina acabou tomada, rebatizada, recuperada. Enquanto isso, a vila foi criando vida própria, ligada à pesca, às pequenas atividades portuárias, ao vai e vem de embarcações de cabotagem.

Nesse ritmo, apesar da antiguidade, Cabedelo somente conquistou sua emancipação política em definitivo na segunda metade do Século XX. Foi apenas em 12 de dezembro de 1956, que lei estadual a configurou na categoria de município.

Hoje Cabedelo integra a Região Metropolitana e se mistura fisicamente com João Pessoa. O Bessa continua em Intermares, o movimento de quem trabalha na capital e mora na cidade vizinha ou vice-versa é constante.

No contexto paraibano, Cabedelo é porta de entrada de combustíveis e cargas para o estado e para regiões vizinhas, grande recolhedor de impostos, guardião de culturas ancestrais e ponto estratégico de ligação com o mar.

Também é cenário de lazer, de campeonatos esportivos ligados às águas, de passeios de barco, de pôr do sol visto do estuário. Mas, como sempre, parte da mesma história de ocupação, defesa e construção do território paraibano.

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